
interior exterior
entre a casa e a escola
_trabalho final de graduação FAUUSP
_ dez 2017
_Antonio Carlos Barossi e Angelo Bucci (orientadores)
_José Tavares Lira e Marta Bogéa
(banca)
Inserido no angustiado contexto da região da Luz, no centro da cidade de São Paulo, o projeto tem como objetivo a discussão das dualidades, opostas e complementares, entre interior - exterior, arquitetura-cidade, indivíduo-coletivo a partir do desenho de uma Escola-Equipamento.
Para tanto, entende-se que a questão transcende a condição física do “dentro e fora” para ser trabalhada também nas relações imateriais entre indivíduo-coletivo; instituição-sociedade.
Dessa forma, a implantação da escola é dissolvida em um conjunto de sete terrenos - não contíguos, mas próximos entre si - onde cada subprograma ocupa um edifício próprio: Biblioteca, Teatro, Quadra, Comedoria, Piscinas e Aulários (edifícios de salas de aula) conectados pelo caminhar na cidade.
Já os muros imateriais entre instituição e sociedade são tensionados, retrabalhados e inseridos no processo pedagógico pelo fato da infraestrutura dos espaços de formação da Escola ser compartilhada com a comunidade local; ou seja, a Escola é concebida como equipamento público aberto à sociedade.
A contextualização do projeto à realidade do bairro da Santa Ifigênia é feita por meio de narrativas que descrevem percursos entre casa-escola de personagens tipo que por lá passam ou habitam, o que ilustra as diferentes escalas que o diálogo entre os dois lados dos muros se dão e como a arquitetura proposta pode impactar os percursos diários e a formação dos indivíduos.



biblioteca
Acorda às quatro horas da manhã e observa a paisagem embalado pelo som dos trilhos e por um romance que está já nas últimas páginas.
Às seis horas desce na estação da luz e segue a pé para o trabalho. Antes de abrir a loja de eletrônicos, encomprida um pouco o percurso só para poder passar pela biblioteca. Às vezes apenas atravessa o quarteirão olhando a galeria de livros; outras sobe ou desce as rampas para escolher rapidamente uma nova companhia de viagem.

comedoria
Cada dia acorda em um lugar, mas estes tempos tem escolhido a Rua dos Gusmões, especialmente em algum canto próximo à comedoria.
A movimentada e transparente cozinha, com o vai e vem dos pratos, ingredientes e pessoas, proporciona a ele não apenas as refeições, mas também e principalmente a lembrança do calor do lar que tinha a cozinha como ponto mais vivo e centralizador da casa.


quadra
Aos finais de semana, depois que as portas do comércio e seus depósitos se fecham, o movimento de vai e vem de mercadorias e seus clientes dá lugar a cadeiras, mesas, sofás e crianças brincando. A sala de estar – ou o quintal – é a rua.
É a hora preferida dela que, sem saber, pode ter seu momento, seu tempo, longe do olhar e do controle dos outros, consegue escapar para a rua do lado e assistir os jogos e a brincadeira das crianças mais velhas na quadra. De cima, fica observando cada movimento da brincadeira e também da rua, de onde fica vendo quem passa e olha pra quadra ou quem apenas passa sem perceber a farra.


teatro
Ao acordar, passa o café e senta-se à mesa. Olha a sua volta e vê o perfume da fervura passar pela sala – agora grande e calma demais. Veste seu melhor terno e coloca a tiracolo o rebolo. Sai de casa e no caminho escolhe sempre passar pela Rua do Triunfo. A caminhada carrega a curiosidade de saber onde será o espetáculo do dia; na praça ou debaixo da terra. Passa pelo teatro e vê um belo ensaio ao ar livre. Acompanha com os olhos cansados, mas logo retoma o passo, já está atrasado. Sobe as escadas de um simples sobrado e chega até a roda de choro. Ele, que em sua sala vazia e grande demais não encontra aconchego, aqui sente-se em casa.



piscinas
Gosta da movimentação e do agito de morar junto aos seus colegas, mas é em outro canto que consegue dar atenção ao seu eu interior.
Dentro ou fora d’água, ela consegue se concentrar e pescar inspirações no movimento e no barulho da umidade. Quando pode, fica horas, mas sempre entre uma aula de percussão e outra de teoria, gosta de apenas estar ali e observar as crianças em suas primeiras braçadas.


estúdios
Durante o dia é ela quem conduz os pequenos nas atividades de imaginação e criatividade, mas quando anoitece e seu papel de educadora se encerra, ela vai até os estúdios para buscar sua pequena, que passou a tarde na oficina de robótica. A transparência dos estúdios maiores torna o edifício uma lanterna habitada, enquanto os menores guardam o segredo das fotografias e das gravações.
Quando chega em casa, sente aflição do enclausuramento das torres apinhadas e rodeadas por muros altos e absolutamente opacos.


aulários
É ele quem cuida daquele lugar todos os dias quando acorda. O que parece ser um lugar de cenários e espetáculos, é na verdade, seu lugar no mundo. Faz parte da companhia e às vezes até interpreta um personagem ou outro.
Mas, há algum tempo, decidiu se dedicar a outra paixão: voltar a estudar. Toda manhã, caminha até o predinho e, desacostumado ao ritmo das aulas expositivas, gosta de subir e descer as escadas para dar uma espiada nas outras salas de aula. Gosta da chuva que às vezes toma ao passar de uma sala a outra.



